La force des choses
31.12.06
La plus belle ruse du diable, est de nous persuader qu'il n'existe pas, disait Baudelaire.
Et la plus belle ruse de certains hommes, pourrait-on ajouter, est de le montrer du doigt là où il n'est pas. (encontrado aqui L'Express )
A mistura da religião na política é sempre uma avenida aberta para a desgraça.
Ouvindo o prof. Adriano Moreira, numa entrevista, citar o recente livro de Madeleine Albright, "The Mighty and the Almighty: Reflections on America, God, and World Affairs", onde a admirável dama (sem ironia) avisa para os riscos dessa atitude que, como confirma, contaminou a tomada de decisões na actual administração Bush, não pude deixar de pensar na velha frase de Baudelaire.
Procurei-a no google e encontrei esta passagem no L'Express, que sábiamente inverte também a coisa.
O Eixo do Mal de George W, na linha do Império do Mal de Reagan, são disso expressão, perigosamente apontando o Diabo onde ele não está, à imagem do que na outra margem fizeram os presidentes da Venezuela e da Teocracia Persa.
Mas o Diabo existe, está em todos nós, e muito mal domesticado por sinal... soltando-se quando menos esperamos. Tem mais nomes e um deles poderia muito bem ser Ódio.
Cavaco segundo VPV
RTP
O inebriante Vasco Polido Valente volta à carga neste sábado (Público 30 XII 06) com o famigerado Dr. Cavaco.
Escreve assim:
“Durante a campanha eleitoral o Dr. Cavaco insistiu muito na cooperação estratégica com o governo. (…)
Em 2006, não se pode dizer que falhou por completo, mas ficou longe do que se esperava dela: o milagre do cavaquismo não se repetiu. (…) … A cooperação estratégica é hoje pura dependência.
O fracasso de um acabou por se tornar necessariamente o fracasso do outro. (…)
Ninguém compreenderá que ele tenha sustentado e reforçado a autoridade de Sócrates para deixar o país como o encontrou, empobrecido e torto, na famosa cauda da Europa. (…)
O presidente e o primeiro-ministro ganham ou caem juntos.”
Este marranço anti-cavacal vem já da campanha presidencial, onde VPV elegeu Soares, zurziu Cavaco e ignorou Alegre.
Defendia a tese de que as promessas de Cavaco (um novo milagre do cavaquismo), sendo impossíveis de cumprir, ser-lhe-ão cobradas mais tarde, quando o país se aperceber que continua na merdaleja.
Não lhe ocorreu (como diz) que será o primeiro-ministro, não o presidente, quem será responsabilizado – por ser ele o eleito para governar – independentemente de quaisquer promessas feitas por Cavaco em campanha; a memória é curta e a função presidencial é de árbitro, não de executivo.
Não lhe ocorre agora também, que é Sócrates quem se está a tornar dependente do presidente, por aceitar (elogiando) propostas e interferências sub-reptícias em domínios exclusivos do executivo, que hoje vão no sentido do reforço (estratégia do momento) mas amanhã, com a legitimidade aberta pelos precedentes, até podem facilitar ao presidente o tirar do tapete: ajudou até onde podia... (parecido com a cena de Sampaio, quando confirmou Santana Lopes, para mais tarde, mais legitimamente o dispensar).
E aí, as responsabilidades pelo estado das coisas, nunca serão do presidente, mas do governo; Aí a responsabilidade do presidente, perante os portugueses, será a de retirar Sócrates da equação.
A ninguém (excepto ao VPV) interessará que Cavaco tenha ou não sustentado Sócrates; o presidente e o primeiro-ministro não ganham nem caem juntos. Quando surgir (se surgir) a Sócrates o momento da desgraça, os portugueses voltar-se-ão para o presidente, com a mesma carência sebastianista com que se viraram antes para Sócrates.
Já na derrota do Dr. Soares, o Dr. Polido Valente devia ter percebido que os portugueses, na sua “atávica miséria” (como diz), não se regem pelos seus iluminados critérios.
O que vejo de perigoso em Cavaco, é que sendo um político competente, hábil e ambicioso (ai não, não é…), aproveitará a primeira oportunidade que julgue de uma fraqueza irreversível da maioria, para levar a eleições, e ao poder um PSD então mais cavaquista; influenciando mais directamente, o homem do leme (no seu íntimo e no de muitos, a sua própria vocação).
É por ver diferente o papel da presidencia, que apreciei a imparcialidade relativa de Jorge Sampaio, e preferia muito a imparcialidade que Manuel Alegre garantia.
Se eu tiver razão (oxalá me engane) mais tarde ou mais cedo, teremos Cavaco;
Se o insigne "opinion maker" tiver razão vão os dois ao ar, qual o problema?
29.12.06
Errei a porta do sentimento
Volta amanhã, realidade!
Basta por hoje, gentes!
Adia-te, presente absoluto!
Basta por hoje, gentes!
Adia-te, presente absoluto!
Mais vale não ser que ser assim
Não houve vontade ou ocasião que eu não perdesse
Não tirei bilhete para a vida
Álvaro de C.
28.12.06
25.12.06
Cold Play
Lights go out and I cant be saved
Tides that I tried to swim against
Have bought me down upon my knees
Oh I beg, I beg and plead
Confusion that never stops
The closing walls and the ticking clocks
Singing come out upon my seas
Cursed missed opportunities
Am I part of the cure?
Or am I part of the disease?
Tides that I tried to swim against
Have bought me down upon my knees
Oh I beg, I beg and plead
Confusion that never stops
The closing walls and the ticking clocks
Singing come out upon my seas
Cursed missed opportunities
Am I part of the cure?
Or am I part of the disease?
24.12.06
22.12.06
Lips are in motion
Ocean to ocean
Paris is calling
Falling, we're falling
Kisses hard kisses deep
A kiss to wake us from our sleep
Take you lover by the hand
Speak in tongues and understand
French kissin' in the USA
A Emoção Criadora de Bergson
kethinovart
A emoção criadora do Bergsonismo está ligada à descoberta da Duração, é a fonte da descoberta e torna-se ela própria fonte de emoção.
Se a interpretação de Platão e Aristóteles fosse verdadeira e "tudo se escoa" significasse "nada fica", então não existiria duração; mas se pelo contrário a "duração" é real, então nada se perde e tudo subsiste.
E se a fluidez do rio dissolvesse a "substancia" fazendo-a desaparecer numa torrente, como se poderia explicar a Música?
A fusão das notas na melodia dando-lhe unidade reíntroduz a ideia de substancia na Filosofia.
21.12.06
O Solstício da Luz
Foi em Roma que o solsticio passou a ser conhecido como sendo a data fixa do nascimento do salvador da humanidade, do filho de Deus e nao mais do Sol, filho da Luz. Foi no ano de 336 de nossa era, que o Imperador Romano Constantino I, aproveitando os festejos do solsticio da luz, anunciou para os povos do imperio a nova religiao de Roma e contou a historia de seu salvador.
A conversão que Bergson impõe ao espírito
kethinovart
A representação de uma multiplicidade de penetração recíproca, completamente diferente da multiplicidade numérica, racional é o ponto de partida aonde Bergson sempre retorna.
Ele volta incessantemente a uma representação de uma duração heterogénea, qualitativa, criadora.
Essa representação intuitiva, não racionalizante, pede ao espírito um grande esforço, a ruptura de muitos quadros mentais, é qualquer coisa como um novo método de pensar, porque o imediato, o dado imediato da consciencia, está longe de ser o que mais fácilmente se percebe; o nosso pensar é discursivo, é naturalmente mediato e não imediato.
Mas uma vez chegados a essa representação, e possuíndo-a sob uma forma simples (não confundir simplicidade com recomposição de conceitos) sentimo-nos obrigados a mudar o nosso ponto de vista sobre a realidade.
E vemos que o problema essencial da Filosofia, do pensamento de Kant, foi pensar o Tempo apartir do Espaço, dividindo-o em parcelas iguais e homogéneas.
Nada de mais irreal, esse tempo não dura, partamos dessa grande intuição a que Bergson designou por Duração, e os comuns mortais chamam Consciencia.
20.12.06
Persuasão em vez de dissuasão
A maior parte dos leitores do relatório (Baker-Hamilton) parte do princípio de que ele se destina ao presidente Bush.
Mas não é verdade.
Tem prioritáriamente como alvo o Congresso, em especial as novas maiorias democratas das duas câmaras.
Não tem por objectivo convencer um presidente teimoso a admitir a derrota, mas a persuadir os deputados de que uma retirada do Iraque está fora de questão.
Os outros leitores visados pelo relatório são os governos árabes de todo o Médio Oriente.(perante uma catástrofe absoluta, nenhum governo àrabe, nem mesmo a Síria, se sentirá em segurança, excepção feita ao regime xiita persa)
A mensagem é a mesma: têm tudo a temer de uma saída dos norte-americanos da região.
(...)
Afinal o texto diz claramente "deixar o Iraque", não é? Falso.
Foquem as outras recomendações do relatório:
- o número de efectivos militares norte-americanos integrados nas brigadas das Forças Armadas Iraquianas deveria passar de três para dez a vinte mil.
- o numero de formadores norte americanos na policia devia aumentar.
- O Ministério da Justiça norte-americano devia encarregar-se da reorganização do Ministério do Interior iraquiano.
- O Iraque tem necessidade de um consultor de alto nível para a reconstrução económica.
- O Departamento de Estado devia formar pessoal capaz de se encarregar das missões civis ligadas à complexa operação de estabilização.
É isto deixar o Iraque? A mim faz-me antes pensar "ficar no Iraque".
Só que desta vez, sabendo-se o que se está lá a fazer.
(...)
Estamos na presença de uma obra de persuasão digna dos clássicos.
O público visado foi seleccionado.
O pior cenário é plausivel.
E as recomendações estão tão hábilmente formuladas que parecem apelos á saída, quando são sinónimo de um melhor envolvimento.
Niall Ferguson,in Courrier Internacional, 15 Dez 2006
19.12.06
Ser e Devir em Bergson
Os gregos ensinaram-nos a reconhecer o Ser mediante uma oposição que define a sua consistencia.
Ao Ser (realidade) opomos o Não-Ser (aparencia).
Quando a Filosofia quer levar o Ser ao seu máximo de densidade imobiliza-o numa eternidade onde existencia é sinónimo de identidade.
O criticismo de Kant justificava-se quando o Ser era o que subsistia imóvel e intemporal sob o Devir. Para Kant só o que permanece pode mudar, pois para acontecer a mudança é preciso que algo de permanente (o Ser) a sofra; a substancia (númeno) é o que fica sob aquilo que muda, e que o espirito jamais conhecerá a não ser alterada (fenómeno).
Contudo, analizando o tempo científico, racional, tal como intervém na Mecânica e na Física, apercebemo-nos que este não dura.
No conhecimento científico, se a totalidade de parcelas (da realidade) forem integradas num instante, nada se altera, pode haver mudança de escala, mas não existe mudança de relações.
A Ciencia positiva consiste essencialmente na eliminação da duração, enquanto dado imediato da consciencia.
Mas... e quando o Devir for o próprio Ser?
Quando a mudança for a substancia, sem a coisa que muda ser distinta da sua mudança?
Como ficamos... quando não existir realidade para além do tempo?
Bergson, como na filosofia anterior a Kant, diz também que o espírito pode atingir o Ser, mas diz isso já com uma ideia muito diferente de Ser.
As maiores dificuldade da Filosofia nasceram de se ter colocado o Tempo e o Espaço na mesma linha.
Pensava o Henri... e penso eu, encavalitado aos seus ombros.
17.12.06
aria serena quand'apar l'albore
e bianca neve scender senza venti
(o ar sereno quando nasce a aurora
a branca neve que cai sem vento)
Guido Cavalcanti
Mas é nas chamadas Lezione Americane, que a figura de Dante aparece, no Calvino crítico, com toda a força de sugestão, directa e indirectamente.
Na primeira lição, Leveza, Calvino invoca Guido Cavalcanti, poeta florentino do círculo de Dante, para expressar seu ideal de flexibilidade estóica frente a tragédia do mundo.
Em oposição a Cavalcanti, Calvino apresenta Dante, o poeta do peso do mundo, da concretude da existência; termina a explanação contemporizando os dois pólos, associando a contemplação da linguagem leve com a da dotada de peso, mas é inegável que Calvino não foge do facto de Dante, no Inferno, retomar os tópicos da tragédia antiga, a arena jurídica que gregos e romanos reservavam para a discussão de aspectos da vida que, Calvino não pretende tratar em sua obra literária.
(in Paula Vermeersch - Italo Calvino, leitor de Dante)
16.12.06
Sociocídio
BBC
"In the last week we have seen the start of internecine violence in Palestine.
It's like what is happening in Iraq or Lebanon.
I'm sure Israel and America will be happy that it is happening.
They can stand back and just watch us killing each other."
Mohammed Alayin, 25, student
São célebres as palavras de Moshe Dayan, um dos heróis de Israel “deixem-nos apodrecer no seu próprio molho.”
O politólogo palestiniano Abdul Jawad, afirma que Israel sempre jogou na divisão entre os palestinianos (favoreceu o Hamas no fim da década de 70) e nunca aceitou a solução de dois estados, como foi definida pela ONU; o que Israel sempre pareceu pretender, segundo Jawad, foi levar o povo palestino, àquilo que designou por "sociocídio".
Após as eleições, ganhas pelo Hamas, e antes do ultimo ataque ao Líbano, acreditei, optimista que estava aberto o único caminho possivel, o reconhecimento mútuo entre Israel e a Palestina.
Enganei-me redondamente, depois veio a crise do Libano, as manipulações de fora, não interessa agora se América ou o Irão, o que interessa é que os factos são estes... acabámos nisto.
E com o Líbano a caminhar para isto; com tropas europeias e portuguesas, não preparadas, mas bem no meio...
15.12.06
Rega morreu hoje
Clik image
Clay Regazzoni muore in un incidente d'auto, 67 anni, un personaggio genuino, originale e molto amato dal pubblico.
Per quattro stagioni con la Ferrari, vice campione del mondo nel 1974, ha vinto 5 gran premi ma la sua carriera è cominciata tardi.(CorrieredellaSera)
Vi-o pela ultima vez em 1975 em Jarama, estava então na scuderia, no topo do mundo.Juntava coração e raça, a raça rara dos corredores de excepção.
Um abraço Rega
Descendo na vida
Nunca serei nada
Não posso querer ser nada
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo
(da Tabacaria, do A.Campos)
13.12.06
Kofi Annan final speech
el-mundo
My first lesson is that, in today's world, the security of every one of us is linked to that of everyone else. (Segurança colectiva)
My second lesson is that we are not only all responsible for each other's security. We are also, in some measure, responsible for each other's welfare. (Solidariedade global)
My third lesson is that both security and development ultimately depend on respect for human rights and the rule of law. (Império da Lei)
My fourth lesson - closely related to the last one - is that governments must be accountable for their actions in the international arena, as well as in the domestic one. (Mútua responsabilidade)
My fifth and final lesson derives inescapably from those other four. We can only do all these things by working together through a multilateral system, and by making the best possible use of the unique instrument bequeathed to us by Harry Truman and his contemporaries, namely the United Nations. (Multilateralismo)
These five lessons can be summed up as five principles, which I believe are essential for the future conduct of international relations.
As President Truman said, "The responsibility of the great states is to serve and not dominate the peoples of the world."
He showed what can be achieved when the US assumes that responsibility.
And still today, none of our global institutions can accomplish much when the US remains aloof.
But when it is fully engaged, the sky is the limit.
Neste início de século, as matérias de domínio reservado do estado (da soberania) têm vindo a reduzir-se cada vez mais.
Em contraponto o Direito Internacional Público ganha peso na comunidade das nações.
Observamos como que um renascer do "Direito das Gentes", colocando um Bem Comum universal sobre os egoísmos da "Razão de Estado".
A Força de cada nação, individualmente (com grande relevo para os USA) tem hoje muito pouca legitimidade (aceitação universal); ao contrário das Nações Unidas, que possuem Legitimidade mas muito pouca força.
Annan diz que as "nossas instituições globais" podem muito pouco, mas quando o empenho americano aparece,"o céu é o limite!"
Se a América decidir aliar a sua força ao Direito Internacional, respaldado na ONU, será para o Bem de todos. Caso contrário será para mal de todos nós, inclusive americanos.
11.12.06
Sleeping Beauties
At night in a garage setting before race day, all four Mercedes W154 cars in various states of readiness and momentarily abandoned.
Manfred von Brauchitsch's car is in the center with the red grill.
Dick Seaman's car is to the right with the green grill.
It was part of the identification scheme to recognize drivers as they went by the pits at 180 mph.
The W154 with a V12 supercharged engine at 3 liters, developed 485 bhp at 8.000 rpm and was very competitive for 1938 and 1939.
(in Gary Doyle, The Silver Cars from the North)
9.12.06
Teleologias políticas
“Todos os conceitos marcantes da doutrina moderna do Estado são conceitos teológicos secularizados.
Não apenas segundo o seu desenvolvimento histórico, por terem sido transportados da teologia para a doutrina do Estado, na medida em que, por exemplo, o Deus todo-poderoso se tornou no legislador omnipotente, mas também na sua estrutura sistemática”
(in Carl Schmitt, Politische Theologie)
O que está na raiz das teleologias políticas ocidentais é, penso eu, o casamento de César (racionalidade clássica) com Cristo (teleologia judaica) unidos numa universalidade irradiante.
No processo da modernidade ocidental (séc. XIX) transportaram-se os conceitos da teologia para a doutrina do Estado (processo de secularização).
As teleologias políticas apresentam uma analogia estrutural entre conceitos da esfera teológica e conceitos da esfera política que Schmitt refere como a “imagem metafísica do mundo”.
Uma teleologia política aparece fundamentalmente como mundanização (secularização) de conceitos originariamente vinculados à esfera da Fé.
A imagem de um “salvador”, a esperança de uma “Idade de Ouro” e a denúncia de uma “conspiração” andam frequentemente de mãos dadas, fornecendo uma representação acabada do jogo político em que estão indicados o Bem, o Mal e o resultado final da luta.
Manifesta-se então a culpa e denuncia-se o que é estranho à "sociedade ideal", nela infiltrado e favorecendo a desintegração do todo.
Essas “sociedades míticas”, fruto de uma visão orgânica do corpo social, são ameaçada pelas sociedades democráticas, cada vez mais complexas, nas quais os conflitos (por vezes extremamente contraditórios) são integrados, aceites como legítimos e parece que tendem a afastar cada vez mais a tal unidade nostalgicamente desejada.
Uma tentação frequente é negar essa multiplicidade em nome da unidade fictícia, substituindo a construção da unidade (que pressupõe a diferença) pelo apelo a uma unidade preexistente (carácter teológico).
Daquilo a que culturalmente se costuma designar por Modernidade, originário da revolução americana de 1787, saíram três caminhos:
- O Liberalismo elegendo como valor a liberdade
- O Comunismo elegendo como valor supremo a igualdade
- O Fascismo elegendo como valor maior a autoridade
Tanto o Comunismo com o seu Povo eleito (a classe operária) e o seu Paraíso terreno (a sociedade comunista), como de alguma forma o Fascismo com o seu Salvador carismático são filhos da visão teleológica de Fé.
O Liberalismo que deu lugar às democracias parlamentares concorrenciais (por princípio) em que se acolheu a diferença, a aceitação do “outro” e recusou a mentira da “união de todos” em modelos de “sociedades ideais”, foi o ramo moderno que mais se afastou da Fé, o mais laico, o mais secular.
Separando a religião e o estado (laicidade cujos custos dramáticos começam na primeira guerra civil europeia, a dos "trinta anos"), permitiu no entanto que sobrevivessem as diversidades da Fé.
E uma razão essencial para essa separação reside precisamente na natureza dogmática da Fé, que não admite dúvida e arrebata a paixão das almas, levando facilmente (diria necessariamente) ao autoritarismo quando detém poder político.
O Poder, quando se possui, é sempre exercido, e a única forma da religião ser aberta e tolerante com as diferenças, consiste em não ter poder político; o que aliás é uma força de expressão, pois mesmo sem poder político, as religiões têm um tremendo poder de sedução, de influencia e manipulação.
8.12.06
Do "devaneio" da Europa (VPV) 2
Na segunda metade do século XX, o bloco de Leste ajudou a criar a fronteira artificial com que nasceu a visão de Robert Schuman e Jean Monet.
Mas essa Europa era herança da II Guerra Mundial, destruída, dividida e submetida às duas supertpotencias;
A visão do Tratado de Roma, era só meia Europa.
No entanto a fronteira dada pela cortina de ferro e por um inimigo externo (URSS) foi factor da consciência e desejo de uma Europa unida.
A queda do muro e o alargamento a leste, cumprindo a História por um lado, esvaíram politica e economicamente o ideal europeu.
E é uma Europa menos empenhada, mais frágil apesar de mais rica, que por vontade das elites governantes se tornou expansionista.
Convém pois a todos reflectir no “até onde”… e nesse domínio há três questões:
A questão da Rússia, a terceira Roma que também se diz “europeia” e para o provar construiu a cidade de Pedro (Petesburgo) no Golfo da Finlândia, a dar para o Báltico, chegando-se ao centro europeu.
A questão da Turquia, a islâmica, vinda das brumas da teocracia medieval, e que o “Pai” modernizou à bruta. Também ela tem um pé, por direito próprio do lado de cá do Bósforo; Constantinopla a segunda Roma.
Um pé (grande) e costumes modernos como eleições democráticas.
A questão do Mediterrâneo, desde do oeste marroquino até ao leste libanês (onde em breve será testado o empenhamento europeu, que espero com mais convicção do que nos Balcãs) passando pelo maior país árabe, o Egipto.
Vizinhos mediterrânicos, os árabes, são também da Europa como bem atesta o Al-Andaluz; vieram de rompante e foram empurrados devagar para fora, mas nós somos eles e o Deus é só um, apesar dos profetas vários.
Acresce na equação a impostura judaica na Palestina, um bocadinho de Europa, e logo a Europa guerreira, no ventre do Islão; pergunto-me por vezes porque pede a Turquia, e não pede Israel, adesão à União Europeia? Não cumpre os critérios de Bruxelas?
Como ficou dito, a Europa nunca foi um território, uma etnia, ou uma cultura bem definidas, pelo contrário foi uma emoção e uma ideia mutante de territórios e etnias cruzadas, que continuará mudando no futuro.
Deve ter um limite algures a Oriente, mas o essencial é a vontade das gentes e não as manias do historiador cínico... parece-me a mim.
A Turquia quer entrar?
E os povos europeus (não as elites de Bruxelas) desejam-no? são precisos dois para o tango…
Em qualquer dos casos a U.E. tem necessidade imperativa de se relacionar bem com os vizinhos poderosos, reduzir a ameaça potencial, e eles terão sempre, dentro ou fora da União, um tratamento privilegiado, quer falem árabe, turco ou russo.
Faço votos para que a razoabilidade impere sobre o expansionismo.
Não basta querer entrar, como a Ucrânia, porque a mãe Rússia não vai ser sempre fraca, um dia ficará forte, e aí quererá resgatar o que é e sempre foi seu, a Rússia branca (Bielorussia) e o “celeiro” da Ucrânia (morreu muito russo na defesa dessas terras).
Quem esquece a História paga, mais tarde ou mais cedo, mas sempre com sangue, suor e lágrimas.
7.12.06
6.12.06
The Silver Cars from the North
As much as 1936 was a disappointment for Mercedes, 1937 was a year of triumph.
While Rudi Caracciola and Bernd Rosemeyer both won four races, Rudi won the driving title.
Alan Fearnley's Battle at Beau Rivage is a dramatic scene from the Monaco Grand Prix of 1937 amidst the architectural wonderment of the principality before the war.
Here we see Caracciola and von Brauchitsch both on Mercedes W125's roaring by the Hotel Beau Rivage. Each of the Mercedes drivers are identifiable because of the different color wind helmets they wore…von Brauchitsch in red and Rudi in white.
Manfred ultimately won the race against team orders. He said later in life that Alfred Neubauer, team manager, did not have much to say to him afterwards, for the rest of his career.
It was one of the few races Caracciola lost to another Mercedes that year.
Many artists have chosen to illustrate the backdrop of pre-war Monaco because of its beauty and contrast to the modern cars.
The Mercedes W125 is Fearnley's favorite machine. He says it "seems to embody all the visual impact that a Grand Prix car should have."
(in Gary Doyle, The Silver Cars from the North)
O "devaneio" da Europa (VPV)
O que será esta coisa que designamos por Europa?
Existe ou será mesmo um "capricho da imaginação" como pensa Vasco Polido Valente?
A Europa é, de facto, mais ideia do que território ou etnias.
E essa ideia tem vindo a mudar.
A identidade tornou-se consciente com a ameaça turca…
Os invasores eram tão temíveis para os Ocidentais como os hunos ou os mongóis tinham sido, mas houve uma diferença importante, a ameaça turca durou muito mais tempo…
Dessa forma a Europa definiu-se por oposição ao turco.
Os turcos eram infiéis, portanto europeu significava cristão.
Se o primeiro contexto, em que as pessoas se tornaram conscientes de serem europeus, foi por serem invadidas, o segundo foi o serem invasores de outras culturas, com as descobertas e a exploração.
Colombo e Vasco da Gama, ajudaram o Grão-turco a criar nos europeus, maior consciência de si próprios.
No século XVII tornou-se importante um terceiro factor, o conflito interno na própria Europa (guerra dos Trinta Anos)
A oposição a monarcas poderosos e ambiciosos (o Sacro Império) tomou a forma da acusação de que tentavam dominar a Europa.
"O expansionismo económico e cultural da União Europeia é megalómano" segundo Vasco Polido Valente.
Concordo... especialmente se apesar da fome de grandeza, não existir vontade (porque poder existe, custa é exercê-lo) nem empenho para a defesa das extensas fronteiras inventadas para lá do Vístula e dos Cárpatos.
Mas em ultima análise a Europa é um sentimento e não um lugar, eu digo-me ou não digo europeu.
No passado Roma era um espaço mediterrânico (a bacia) não coincidente com o que hoje designamos Europa.
Depois a Cristandade teve a Leste, em território agora europeu, a temida ameaça islamo-otomana.
As fronteiras Oeste atlântica e Norte (Escandinávia) nunca foram problema;
No Sul, depois da reconquista, o mesmo mar que uniu Roma, separou e definiu a fronteira com os àrabes infiéis;
Mas a Leste as fronteiras sempre foram fluidas, porque desse lado fica um corredor sem porta. Irónicamente, a antiga "Porta" (Bizancio) é islâmica... as raízes dos povos do "Livro" andam sempre entrelaçadas.
5.12.06
O grande cínico
capturado aqui
Às vezes, Vasco Polido Valente alicia-me reflexões, como na "posta" no Público deste domingo, sob o título “A descendência” (do marxismo, diz ele).
Além da erudição brutal (no sentido literal), Vasco elabora verdadeiros tratados do "odioso no humano".
Contudo não nos despreza, mortais rasteiros portugueses, pois o seu pretenso "desprezo" é cheio de adjectivações, ele qualifica-nos, liga-nos... no fundo amar-nos-á?
E Sua Sabedoria não é só muito culto, sabichão, também possui uma inteligência acima.
Diferente, eu que sou estupido, arrosto-me praticamente no estado em que saí da Natureza.
O azar do mundo é que a maior parte se parece mais comigo, incluindo o Policarpo e o Júdice, do que com ele que é raro.
Mesmo assim, por isso mesmo, arrisco dizer:
O Cinismo “realista” (e o realismo também é uma construção teórica e como tal subjectiva) do Doutor Vasco, na prática diz-nos isto: só há um caminho… mas não vai dar a lado nenhum.
Então muito obrigado senhor Doutor… e não se incomode, deixe-se estar sentado.
Estou doido!
"É curioso (…) verificar (…) como em política e religião a loucura anda sempre muito perto da superfície.
O sr D. José (Policarpo) e José Júdice partilham de uma convicção, (…) da superioridade absoluta da ortodoxia ideológica do Ocidente:
- A dignidade da pessoa humana
- A liberdade
- A tolerância
A famosa “abertura (...) que ninguém consegue resistir a tanta perfeição."
(VascoPolidoValente - "A descendencia" no Publico 2/XII/2006)
São (somos) doidos todos os que têm opção por estes valores;
A intolerância, a opressão, a desvalorização da Pessoa, isso é que é saúde!
Vou mas é chamar o Arno:
"(…) uma patologia menos evidente e mais perigosa, de cujo método próprio a dissimulação faz parte: a loucura que se encobre a si própria e se mascara de saúde mental.
Essa não tem dificuldade em ocultar-se num mundo em que o engano e o ardil são comportamentos adequados à realidade.
Ao mesmo tempo que os que já não aguentam a perda dos valores humanos no mundo real são considerados "loucos", atesta-se a normalidade àqueles que se separaram das suas raízes humanas.
(Arno Gruen e a loucura da Normalidade)
4.12.06
25 de Julho de 1937
Na confusão antes da partida para o Grande Prémio da Alemanha no saudoso Nurburgring nas montanhas do Eifel, misturei-me entre os pilotos e o cheiro do rícino.
Distingo alguns cromos como a Alice Carraciola em primeiro plano, logo depois à direita, de chapéu na mão (braçadeira amarela) Alfred Neubauer, o patrão da Mercedes (que me deu a braçadeira para circular no "pit lane"), e ainda ao longe reconheço a camisa amarela e calças azuis do mestre, Nuvolari.
Os aviões sobrevoam-nos em demonstração; tecnologia, bandeiras e propaganda por todo o lado.
Herr Hitler já assusta mas ainda é admirado, particularmente em solo alemão.
Em Inglaterra o Jorge VI acaba de ser coroado e Chamberlain tornou-se primeiro ministro.
Em Espanha a guerra floresce, Emilio Mola acaba de morrer num acidente aéreo e os nacionalistas conquistam Bilbau.
Na União Soviética o camarada de ferro inicia alegremente a purga de 20.000 oficiais russos, que lamentará três anos depois.
Na China desde o dia 7 que o Japão ataca em grande escala.
Caraciola (Mercedes) ganhará na frente de Von Brauchitsch (Mercedes) e Rosemeyer (Auto Union) e por entre a floresta dos braços estendidos um Korpsführer tentará impedir os pilotos alemães de beijar as admiradoras, considerando comportamento anti-ariano.
Ia fazer 35 anos... e naquele momento só queria ver e tocar os fabulosos carros prateados, ali à minha mão de semear.
Imagem: Gary Doyle
2.12.06
Antediluviano
O quante volte fusti tu veduto in fra l'onde del gonfiato e grande oceano, a guisa di montagna quelle vincere e sopraffare, e col setoluto e nero dosso solcare le marine acque, e con superbo e grave andamento!
Oh quantas vezes foste visto entre as ondas do furioso e grande oceano, à guisa de montanha vencê-las e dominá-las com o sedoso e negro dorso a sulcar as marinhas águas, com soberbo e grave andamento!
Imagem: Ivan Aivazovsky (visto aqui)
Texto: Leonardo, Códice Atlântico, fólio 265
1.12.06