La force des choses
17.2.09
Gimme hope Joanna!
Well Jo'anna she runs a country
She runs in Durban and the Transvaal
She makes a few of her people happy, oh
She don't care about the rest at all
She's got a system they call apartheid
It keeps a brother in a subjection
But maybe pressure can make Jo'anna see
How everybody could a live as one
Even the preacher who works for Jesus
The Archbishop who's a peaceful man
Together say that the freedom fighters
Will overcome the very strong
I wanna know if you're blind Jo'anna
If you wanna hear the sound of drums
Can't you see that the tide is turning
Oh don't make me wait till the morning come
Uma musica do carago, já quase foi esquecida...
Este reggae proibido era cantado nos eighties pelas ruas do Soweto.
Joanna é Joanesburgo e o “Archbishop who's a peaceful man” refere-se a Desmond Tutu, futuro prémio Nobel da paz, a meias com o branco que legalizou o ANC, dando o golpe final no sistema racista de “apartheid”. Há 18 anos, no mês de Fevereiro do ano longínquo de 1990, Nelson Mandela era libertado da prisão… Desde aí muita água passou debaixo das pontes. A Africa do Sul, a mais emblemática e desenvolvida democracia africana, está mal, corre hoje o perigo de regredir, afogada na estupidez de novos racismos e corrupções.
Ah! mas a música, a voz, são divinas!
Gimme hope, Jo'anna
Hope, Jo'anna
Gimme hope, Jo'anna
Fore the morning come
Gimme hope, Jo'anna
Hope, Jo'anna
Hope before the morning come
Etiquetas: áfrica, ouvir, racismo
28.11.08
Quem nos protegerá?
Quem nos ajudará? ... a cada dia que passa, mais e mais pessoas morrem... nós, a população civil, somos reféns, presos entre o fogo cruzado... salvem nossas vidas agora, ou será tarde demais
O horror da crise no Congo é uma mancha na consciência do mundo
Etiquetas: áfrica, congo, politica
6.7.08
From Zambezi to Limpopo, may leaders be exemplary

Os dados obtidos pelo Post tornam claro que os militares, que perderiam fortuna e influencia se Mugabe deixasse o poder, não estavam prontos a perder simplesmente porque os eleitores tinham assinalado com uma cruz o nome de Tsvangirai nos boletins de voto.
“Um pedaço de papel não pode governar um país” disse a 4 de Abril ao Politburo do partido, Solomon Mujuru, um antigo comandante da guerrilha que já foi comandante do exército.
Craig Timbert, Publico/Washigton Post - 6/7/08
Etiquetas: áfrica, mugabe, politica
6.5.08
22.9.07
Terras que senti
A primeira reacção é de espanto.
Um olhar negro profundo, entre o assustado e o curioso, é uma expressão que se vai repetindo em cada aldeia que visito, mas com a singularidade de cada região e…de cada pessoa.
Há uma confusão que se estabelece entre o “belo” e o “constrangedor”.
Mas prevalece a emoção e a verdade destes encontros entre “almas” sem cor, sem raça, sem religião, somos apenas seres humanos que nos cruzamos.
A humanidade devia procurar aprofundar o que tem de mais genuíno, de mais profundo, afinal o que tem de perene.
Isto sente-se, nestes momentos.
Neste caso, estou consciente de que foram “momentos únicos”, muito especiais, carregados de uma emoção ímpar e intransmissível, uma experiência interior privilegiada.
E todos estes momentos são tão fortes que nunca esquecerei os seus rostos.
Os rostos que irão marcar esta etapa da minha vida, são muitos…mas alguns ficarão registados para sempre.
Depois do trabalho concluído, o motor foi ligado, o ruído começou novamente e esta aldeia ficou para trás, debaixo de uma nuvem de pó.
A pobreza é sempre tanta que nos inibe.
Mas por outro lado, tudo é genuíno e por isso faz sentido, “sentir”.
Rita Jasmim
Etiquetas: afectos, áfrica, rita j, viver
18.9.07
Terra que vi
Diga-se a verdade, o outro helicóptero era de passageiros, cómodo, insonorizado, destinado a fazer o transbordo de passageiros entre o aeroporto JFK e La Guardia.
Este helicóptero é bem diferente, é de carga.
Depois do carregamento, sobrou algum espaço para as pessoas. Rebateram-se aquela espécie de bancos (refira-se, sem costas) e o enorme ruído começou.
Ruído esse que nos acompanhou durante seis horas.
Chegámos ao primeiro destino.
Começou aí a verdadeira emoção.
Toda a população correu em direcção a este estranho “animal voador” e no meio de uma multidão pejada de crianças, surgiram dois idosos.
Vieram ter comigo com uma atitude de respeito tão visível nos seus rostos e olhares, baixaram a cabeça, apertaram-me a mão suavemente, senti a pele seca e curtida. Senti a idade daqueles homens.
E eles sentiram pela forma como os olhei a admiração que tenho pela função que exercem por esse interior fora.
Vinham identificados como Regedores, cargo acima de Soba,
num papelinho escrito à mão, com dificuldade e preso com um alfinete no bolso do (provavelmente único) casaco.
Esta aldeia, como tantas outras espalhadas pelo interior, é pobre, muito pobre.
Ruído esse que nos acompanhou durante seis horas.
Chegámos ao primeiro destino.
Começou aí a verdadeira emoção.
Toda a população correu em direcção a este estranho “animal voador” e no meio de uma multidão pejada de crianças, surgiram dois idosos.
Vieram ter comigo com uma atitude de respeito tão visível nos seus rostos e olhares, baixaram a cabeça, apertaram-me a mão suavemente, senti a pele seca e curtida. Senti a idade daqueles homens.
E eles sentiram pela forma como os olhei a admiração que tenho pela função que exercem por esse interior fora.
Vinham identificados como Regedores, cargo acima de Soba,
num papelinho escrito à mão, com dificuldade e preso com um alfinete no bolso do (provavelmente único) casaco.
Esta aldeia, como tantas outras espalhadas pelo interior, é pobre, muito pobre.
Mas todas têm um local de reunião, de diálogo, um Jango onde o soba transmite as recomendações provenientes da Administração local e…onde se relata a História deste povo, os acontecimentos mais importantes da aldeia, onde se dirimem conflitos, onde também se julgam os cidadãos que prevaricaram.
Nestes locais, as famílias vivem em kimbos, a economia é se auto-subsistência e o tempo corre com uma única referência, o nascer e o pôr do sol, determinando as tarefas diárias para homens, mulheres e crianças.
Sim, porque aqui todos têm uma função dentro destas pequeninas comunidades e o conceito de “solidariedade” faz sentido, porque faz parte da sobrevivência.
Nestes locais, as famílias vivem em kimbos, a economia é se auto-subsistência e o tempo corre com uma única referência, o nascer e o pôr do sol, determinando as tarefas diárias para homens, mulheres e crianças.
Sim, porque aqui todos têm uma função dentro destas pequeninas comunidades e o conceito de “solidariedade” faz sentido, porque faz parte da sobrevivência.
Rita Jasmim
Etiquetas: áfrica, rita j, viver
30.8.07
Um óbito
Sentimentos…que todos os dias se alteram, nesta terra em que o tempo tanto corre, como não passa por nós.
Hoje o dia começou com um funeral, como se diz aqui, um “óbito”. A tia da Ivone faleceu e o funeral foi hoje no Cemitério do Alto das Cruzes (no Bairro Miramar).
Chegámos ao Cemitério, o calor era imenso, abafava, fazia suar pelo rosto abaixo. Vimos então, já o acompanhamento de um funeral.
Não sabíamos se era aquele. Faltavam 5 minutos para as 13h e podia ser outro.
Perguntei a uma mulher, que no seu compasso lento, seguia aquele grupo pesaroso e respondeu-me que era o funeral da Marisa. Agradeci e lembrei-me vagamente do nome, por várias conversas que a Ivone teve comigo.
Este funeral envolveu-me de vários sentimentos. Naturalmente que qualquer funeral ainda me faz recordar a morte da minha mãe. Mas para além dessa inevitabilidade, fez-me lembrar os funerais de negros noutras partes do mundo.
Não se estava a festejar a morte como em New Orleans, mas a tristeza profunda de uma partida sem regresso.
E em Angola, como provavelmente em toda a África, a expressão da dor é mais exteriorizada, manifestam-na sem reservas ou preconceitos.
Essa expressão parece também o evocar das almas dos que já lá estão. E por isso os chamam, a mãe, o pai, o irmão, o sobrinho, todos aqueles que um dia partiram e nunca mais voltaram.
Num dado momento, já no local onde o caixão iria baixar à terra, rezou-se um Pai Nosso, uma Avé Maria e houve cânticos de voz arrastada e triste.
As exéquias continuaram e voltou-se a repetir o Pai Nosso e a Avé Maria.
Os homens encarregues de enterrar o caixão, pegaram nas cordas… e mal terminou esta última oração, ouviram-se gritos, autênticos uivos lancinantes, assustadores… O sentimento genuíno, vivo, de uma dor incontida.
Ficámos petrificados, com todo aquele clima de dor e saudade, de expressão sem medo do ridículo, de um extravasar da intimidade, em que mulheres e homens, o fizeram da mesma forma.
Quando vimos a Ivone, ela vinha amparada pela família, a chamar pela mãe “eu quero a minha mãe aqui, já!”, “quero a minha tia!”… enfim, derramou naquelas lágrimas, todas as vontades que o coração pediu.
Pediu… sem ser atendido.
E com esta morte, aprendi mais uma regra de vida: não vale a pena disfarçar, mascarar a verdade. Fiz muito bem em chorar a minha mãe durante o tempo que precisei… e sempre que tiver vontade de o fazer.
Rita Jasmim
Etiquetas: afectos, áfrica, rita j, viver
4.7.05
As pessoas, mas sobretudo o dinheiro! The real AID

BBC photo
Sob o título "Não o dinheiro, mas as pessoas", o Prof.E. Prado Coelho, no Público desta semana, refere o enorme empurrão sócio-virtual, que o global Live Aid Eight deu para fazer mexer os poderosos oito.
E de facto mexeram-se.
O perdão da dívida, aliás impagável, aos 18 países mais pobres é um resultado real.
Esse valor que parece muito (40 mil milhões de dólares), é pouco.
Segundo a ONU, só em perfumes gasta-se por ano, na Europa e nos USA, mais de um quarto disso.
Mas perdoar a dívida é só um princípio, um quase nada.
A aparentemente utópica Taxa Tobin, de 0,1% sobre os movimentos globais de capitais, que James Tobin (prémio Nobel da Economia de 1981), propôs em tempos, seria outro objectivo fundamental.
Poderia financiar de uma forma permanente, e não pontual, um fundo de apoio aos países de economias mais vulneráveis a esses movimentos especulativos.
Esse valor percentual parece pouco, mas é muito dinheiro.
E num mundo onde, ainda segundo a ONU, as necessidades de saneamento básico de todos os países carenciados seriam cobertas pelo tal dinheiro consumido anualmente em perfumes, seria pedir muito?
Ora, o Prof. Prado Coelho fala dos que em voz alta denunciam e rejeitam o escândalo permanente da miséria.
Não é o dinheiro (que está em causa), mas as pessoas, diz.
E remata: os que querem mesmo acreditar não vão recuar, é preferível ser-se ingénuo a não ser nada.
Pergunto eu: então e os "ingénuos" dos países ricos, estão dispostos a pagar, para salvar aqueles por quem levantam a voz?
Um desgraçado que nasce em Àfrica tem por ano o que qualquer de nós pode gastar num dia (ou seja, não tem nada).
Não seria nunca sustentável uma economia global em que todos tivessem o nível de vida Ocidental; frigorífico, televisão, automóvel, etc.
Bastou um incremento de consumo per capita relativamente baixo na China, para induzir a maior crise petrolífica de sempre. Já não se trata da matéria prima, mas da própria capacidade de produção e transporte que é insuficiente.
O modelo económico actual é insustentável, e é isso que está em causa.
Porque na questão da pobreza, sim, trata-se de pessoas; mas não é com música, é com dinheiro que são salvas.
E não é com música que se convencem os privilegiados dos países ricos a aceitarem a subida do custo de vida, ou a perderem direitos e bens “adquiridos”.
Aliás é esse o problema dos oito poderosos, manter o nível de consumo a que estão (mal) habituados.
Se o aumento do preço do petróleo nos dói, nos países mais pobres aniquila.
Pois é...
É de dinheiro que se trata, é do dinheiro de todos os privilegiados do hemisfério Norte, nós.
E seria possível salvar os que morrem de fome.
Se os (nossos) egoísmos não fossem tão ferozes.
Mas é do dinheiro que se trata, Prof. Prado Coelho!
Etiquetas: áfrica, economia, pobreza