4.7.05
As pessoas, mas sobretudo o dinheiro! The real AID
BBC photo
Sob o título "Não o dinheiro, mas as pessoas", o Prof.E. Prado Coelho, no Público desta semana, refere o enorme empurrão sócio-virtual, que o global Live Aid Eight deu para fazer mexer os poderosos oito.
E de facto mexeram-se.
O perdão da dívida, aliás impagável, aos 18 países mais pobres é um resultado real.
Esse valor que parece muito (40 mil milhões de dólares), é pouco.
Segundo a ONU, só em perfumes gasta-se por ano, na Europa e nos USA, mais de um quarto disso.
Mas perdoar a dívida é só um princípio, um quase nada.
A aparentemente utópica Taxa Tobin, de 0,1% sobre os movimentos globais de capitais, que James Tobin (prémio Nobel da Economia de 1981), propôs em tempos, seria outro objectivo fundamental.
Poderia financiar de uma forma permanente, e não pontual, um fundo de apoio aos países de economias mais vulneráveis a esses movimentos especulativos.
Esse valor percentual parece pouco, mas é muito dinheiro.
E num mundo onde, ainda segundo a ONU, as necessidades de saneamento básico de todos os países carenciados seriam cobertas pelo tal dinheiro consumido anualmente em perfumes, seria pedir muito?
Ora, o Prof. Prado Coelho fala dos que em voz alta denunciam e rejeitam o escândalo permanente da miséria.
Não é o dinheiro (que está em causa), mas as pessoas, diz.
E remata: os que querem mesmo acreditar não vão recuar, é preferível ser-se ingénuo a não ser nada.
Pergunto eu: então e os "ingénuos" dos países ricos, estão dispostos a pagar, para salvar aqueles por quem levantam a voz?
Um desgraçado que nasce em Àfrica tem por ano o que qualquer de nós pode gastar num dia (ou seja, não tem nada).
Não seria nunca sustentável uma economia global em que todos tivessem o nível de vida Ocidental; frigorífico, televisão, automóvel, etc.
Bastou um incremento de consumo per capita relativamente baixo na China, para induzir a maior crise petrolífica de sempre. Já não se trata da matéria prima, mas da própria capacidade de produção e transporte que é insuficiente.
O modelo económico actual é insustentável, e é isso que está em causa.
Porque na questão da pobreza, sim, trata-se de pessoas; mas não é com música, é com dinheiro que são salvas.
E não é com música que se convencem os privilegiados dos países ricos a aceitarem a subida do custo de vida, ou a perderem direitos e bens “adquiridos”.
Aliás é esse o problema dos oito poderosos, manter o nível de consumo a que estão (mal) habituados.
Se o aumento do preço do petróleo nos dói, nos países mais pobres aniquila.
Pois é...
É de dinheiro que se trata, é do dinheiro de todos os privilegiados do hemisfério Norte, nós.
E seria possível salvar os que morrem de fome.
Se os (nossos) egoísmos não fossem tão ferozes.
Mas é do dinheiro que se trata, Prof. Prado Coelho!
Etiquetas: áfrica, economia, pobreza