14.2.10
A revolução de 1910: a Igreja Católica
A propósito do centenário da morte do Marques de Pombal, a ala activista do PRP tentou explorar o anticlericalismo, mas falhou. Nem mesmo o público informado, identificava o regime com a “reacção religiosa”. O PRP não conseguiu convencer ninguém de que os jesuítas manipulavam a Monarquia. Contudo, apesar de uma semi-clandestinidade – porque a Monarquia era genuinamente liberal – a Igreja prosperava. A coisa adormeceu.
Em 1908 as circunstâncias modificaram-se. Carlos morrera, mas a Monarquia mantinha-se. Para mais com uma certa influência da rainha-mãe, Amélia, dita “a beata”. Os republicanos voltaram à carga com a “questão religiosa” e a ideia de que os jesuítas manobravam a rainha e através dela, o rei. Desta vez funcionou, até porque à medida que os partidos históricos se dissolviam, a franja ultramontana tentava-se impor como pilar do regime, numa Liga Monárquica, envolvendo restos de miguelismo, de franquismo e outros monárquicos intransigentes. A própria Igreja mudou, e se antes procurava não se imiscuir nos assuntos públicos, depois de 1908, quando a fraqueza do regime se tornou patente, tentou correr em seu auxilio, por exemplo, com missas de “desagravo” a Deus, presumivelmente ofendido pela impiedade republicana.
Para desgraça do próprio regime, a atitude dos bispos foi de firme resistência a qualquer concessão liberal a que os governos se sentissem tentados. Em 1910, o Directório declarava oficialmente que a “reacção politica” e a “reacção religiosa” já não podiam separar-se.
Depois da revolução de Outubro, será com o argumento da “Questão religiosa” – a Lei da Separação – que Afonso Costa lançará a violência radical. Nessa altura, a Igreja incorporará de facto (numa outra semi-clandestinidade, de sobrevivência) o referencial da oposição de direita anti-republicana. E em 1928, com Oliveira Salazar, virá a revanche.
(subtraído ao Vasco Pulido Valente, O Poder e o Povo 1974)
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