Da exploração
Não estando com tempo para uma série de posts sobre Economia Política – que até me ajudava a actualizar as ideias – não quero deixar de dedicar ao caro Jrd, um esboço do que penso nesse domínio. E encaixado que estou numa ideologia (coisa fora de moda) não lhe será difícil descortinar-me as ideias. Devo contudo dizer, que após o famoso 25, fui à Democracia Cristã e até sócio do CDS, de onde me livrei após a chegada do populismo. Mas nunca vi grande diferença entre esta e a Social-democracia:
- Ambas rejeitam os sistemas políticos totalitários e transpersonalistas, à direita, os fascismos, como à esquerda, os comunismos;
- Ambas se distanciam dos sistemas económicos radicais, à direita, o individualismo liberal assente só no lucro, à esquerda, o socialismo marxista que assenta no colectivismo;
- Ambas se batem pela concretização de uma sociedade livre, justa, igualitária e humanista (todos termos que requerem, claro, aturada análise e mínima precisão:)
Daí que, hoje, confessando-me cristão e social-democrata - apesar de liberal e individualista, por temperamento - me atreva a apontar um trecho de uma velha encíclica, como princípio da questão “onde é que o explorador e os explorados se “encontram”…
“Não dás da tua fortuna – assim afirma Santo Ambrósio – ao seres generoso para com o pobre, tu dás aquilo que lhe pertence. Porque aquilo que te atribuis a ti foi dado em comum para uso de todos. A Terra foi dada a todos e não apenas aos ricos” (…) Ninguém tem o direito de reservar para seu uso exclusivo aquilo que é supérfluo, quando a outros falta o necessário. Numa palavra, o direito de propriedade nunca deve exceder-se em detrimento do Bem Comum, segundo a doutrina tradicional dos Padres da Igreja e dos grandes teólogos. Surgindo algum conflito entre os direitos privados adquiridos e as exigências comunitárias primordiais, é ao poder público que pertence resolvê-lo, com a participação activa das pessoas e dos grupos sociais. (Enc. Populorum Progressio, 23)
Etiquetas: economia, jrd, politica
Sei muito bem o que é a social-democracia dos países nórdicos (não conheço mais nenhuma) o resto são embustes e contrafacção.
Independentemente de reconhecer que existem diferenças gradativas e de um ou outro exemplo histórico progressista, entendo que a Democracia-cristã não é mais do que uma forma beata e habilidosa de vender o Capitalismo a qual, se necessário, muda de nome e de cenário, a qualquer momento. Aliás, se depois do que chama de famoso 25, que presumo seja o de Abril, o meu caro foi àquela “Democracia Cristã”(*), penso que não fez grande viagem relativamente ao pouco famoso 24…
Parece-me ser mais honesto dizer-se Cristão e Social-democrata.
Santo Ambrósio tem razão quando diz dirigindo-se ao rico: Não dás da tua fortuna…
Essa mesma, resultou da exploração dos pobres.
A Caridadezinha é uma manobra de diversão e, já agora, quantos pobres custa um rico?
(*)Existiam e ainda bem várias e conhecidas excepções e o meu caro foi certamente uma delas.
Um abraço
Não me passa pela cabeça discutir ideologias. Quis apenas explicitar-me, até porque pouco haverá a dizer que não estejamos ambos cansados de ouvir. No entanto, acabamos avançando ideias, que no nosso caso algumas vezes se hão-de chocar… com todo o apreço, creio que já nos vamos conhecendo um pouco :)
Tou muito cansado agora, mas queria responder uma ou duas coisas. Não conheço ao vivo a social-democracia escandinava. É curiosamente a versão que parece mais virtuosa, tendo em conta as outras dois grandes ramos, a original marxista alemã e o trabalhismo inglês. As sociais-democracias do norte são com alguma ironia as mais conservadoras e menos marxistas, caracterizando-se ao que sei, pela preponderância da socialização (propriedade cooperativa) em detrimento da nacionalização. Mas o sucesso é mais fruto das culturas de origem, do que da forma politica em si, creio.
A “caridadezinha”, se é entendida como hipocrisia social, não presta para nada. Mas não é por isso, que aquilo que referi como responsabilidade social relativa ao Bem Comum, tem menor valor. Existe e parece-me necessária; o Estado em nenhuma forma (não no comunismo, por exemplo) conseguiu, interna ou externamente, superar claramente a intervenção privada; exemplos antigos são as Misericórdias em Portugal e a Cruz Vermelha Internacional.
Quanto a “toda a fortuna resultou da exploração dos pobres”, como imagina discordamos… o que não tem importância, felizmente, para ambos, sou completamente impotente no governo ;)
Mais uma vez, sem querer esgrimir ideologias, só posso dizer que os sistemas económicos reflectem o poder e por conseguinte existiu na sempre na história uma concomitância com a riqueza. Mas, aquilo que mais terá prejudicado o bem-estar das classes pobres, nas economias modernas bem entendido, foi o chamado “capitalismo de estado” (o monopólio com mais defeitos dos mesmos); e aquilo que mais elevou esse bem-estar, com altos e baixos bem entendido, foi a chamada “economia de mercado” (essencialmente, concorrência); vide os óbvios exemplos dos rendimentos per capita, no mundo ocidental, em especial na América… iparece-me.
Não pondo em causa, que a revolução do marxismo fez aparecer, por reacção, preocupações sociais nas economias de mercado (hoje todas, mais ou menos, interventoras, apesar das tretas do neoliberalismo) mas o “capitalismo” (para mim não há outro sistema económico, daí as aspas) evoluiu para formas que Marx não previra. Caso da teoria da “mais-valia” e das teses da “concentração progressiva” e do “empobrecimento crescente”. Os operários puderam ser pagos muito para além dos níveis de subsistência, puderam participar no capital e em muitos casos tornarem-se donos e empregadores. Evidentemente que, também é inegável todo o passivo, todas as desigualdades, que o progresso económico gera, mas isso tem que ser assumido. E quanto a mim não é resolvido pela detenção da produção, mas pelo controlo na redistribuição, à maneira social-democrata.
Desculpe a lenga-lenga, que já ouviu muitas vezes, de certeza.
Um abraço amigo e boa noite
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