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La force des choses
2.4.08
 
Para além da vida das abelhas e das flores 3: as nações desunidas
Talvez o exemplo mais paradigmático do Uni-Mutilateralismo seja a relação da América com a Organização das Nações Unidas (ONU). As Nações Unidas são a instituição multilateral por excelência e é aí que, apesar de terem força para agir unilateralmente, os americanos procuram adquirir legitimidade, uma vez que actuar em nome do Direito e da comunidade internacional é preferível a agir em nome da segurança nacional. E a articulação de políticas no âmbito do multilateralismo, permite à América maximizar o seu soft-power – note-se que não há “soft-power” sem “hard-power”, um equívoco europeu muito comum. Só que a organização é constituída por nações, em muitas vezes desunidas.
Criada no contexto pós 1945, a ONU não é um conjunto de entidades neutras. Trata-se de uma associação de estados com os seus interesses nacionais, muitas vezes conflituantes. Esta realidade começa logo no seu núcleo duro, os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança, os que dispõem da exclusividade do direito de veto, por via do qual, nunca os EUA, a França, o Reino Unido, a Rússia, a China ou os seus protegidos estão sob a alçada de uma resolução hostil.
Este pormenor fundamental, ajuda a explicar muitas das ambiguidades e contradições do próprio funcionamento da ONU, e a sua relação com a legitimidade internacional. Como se viu a propósito da crise do Iraque.

Na Crise do Iraque as preocupações com a segurança tinham níveis bastante diferenciados entre americanos, europeus, russos e chineses, e os interesses relativos ao petróleo eram nitidamente conflituantes. Franceses e russos estavam mais envolvidos no investimento e exploração dos poços iraquianos, mas os americanos nunca foram indiferentes a esses recursos. Em consequência, as “nações desunidas”, acordaram na identificação da ameaça, mas discordaram no modo de responder.
A evolução da crise levou os Estados Unidos a optarem pelo unilateralismo – apesar de nunca desistirem de envolver uma coligação alargada de países, e creio vir daí a atitude pouco sensata, de tentar convencer o CS, à última hora, com “provas” das ADM iraquianas (facto dispensável, que posteriormente eclipsou tudo o resto nesta história).
Mas não se pense que a determinação unilateral é exclusivo da administração Bush.
Já em 1994, a embaixadora Madeleine Albright (administração Clinton) declarara num tom semelhante “a nova politica destina-se a assegurar que nos dispensamos de solicitar à ONU a realização de missões para as quais não se encontra apetrechada e que ajudaremos as Nações Unidas a serem bem sucedidas nas missões que gostaríamos que cumprissem”
No mesmo sentido, em 1995, o ex-secretário geral da ONU, Boutros Boutros-Gali, na aplaudida “Agenda para a Paz” referiu a diversidade de modalidades para a defesa da Paz, incluindo o “desarmamento compulsivo” (e era do Iraque que fundamentalmente se tratava) “As Nações Unidas não têm nem reivindicam o monopólio de nenhum desses instrumentos. Todos eles podem ser utilizados (e foram-no de facto, na maioria dos casos) por organizações regionais, grupos de estados constituídos para o efeito ou Estados a título individual”.
O que os Estados Unidos fizeram em relação ao Iraque foi precisamente “constituir um grupo de estados para o efeito”, a Coligação.

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Comments:
A Sede da ONU é em Nova York, mas podia ser em Washington, que não se notaria a diferença.
bfs
abraço
 
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