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La force des choses
10.2.08
 
Ao Luis...
Dizes: “Que o povo alemão tenha seguido gente tão estúpida é o que me continua a deixar perplexo”…

E não vês a influência de Nietzche?
O erro fundamental foi, acreditar, e fazer acreditar, que há uma divisão na Humanidade; de um lado “mestres” e do outro “escravos”.
Porque não é verdade, na realidade cada um de nós é simultaneamente chefe com o instinto de comandar e sujeito prestes a obedecer; ainda que a segunda tendência seja a mais aparente nas massas humanas.
Mas a História mostra com frequencia, modestos cidadãos, humildes e obedientes, que um belo dia se levantam com a pretensão de conduzirem homens; é o que vemos em todas as revoluções.

Até à década de trinta, e durante a ascensão do Nazismo, as modas filosóficas andavam muito nessas bandas; era fácil, aliando o anti-semitismo europeu antigo, fazer passar a ideia de que há raças fortes, puras e outras degeneradas, fracas, inversoras dos valores para sobreviverem (note-se que a filosofia do super-homem não era, em si, racista) pois o seu carácter negativo era constitutivo e imutável. Tinham de ser seleccionados...
E de seguida fácil também é estatuir, como negativa a moral dos fracos, em particular a piedade cristã, e como positiva a moral afirmativa, irracional mas estética, a dos fortes (no fundo, a cruedade); e assim justificar agir mal, porque já não é mal, mas um embuste dos fracos.
Repare-se também, como parecem emergir do filme dois paralelos, um entre esta multidão e a que vociferava a Pilatos “crucificai-o! crucificai-o!”; e outro entre o criminoso inveterado e o propagado carácter "imutável" dos judeus.

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