6.7.05
Sobre a imposição do "Reino dos Céus"
Um interessante artigo de Madeleine Albright (pessoa que estimo politicamente) publicado pela Foreign Affairs de Set/Out 2003, sobre o Terrorismo e a invasão do Iraque, suscitou-me algumas reflexões sobre o assunto.
O artigo começa com três citações que definem duas posturas políticas diferentes nas Relações Internacionais, a dos falcões (dois inimigos) e a das pombas europeias (Villepin), que penso, encerram em si algum maniqueismo (as duas primeiras) e hipocrisia (a segunda).
“Todas as nações, de todas as regiões, têm agora que tomar uma decisão.
Ou estão connosco ou estão com os terroristas.”
George W. Bush após o ataque de 11 de Setembro
“Só existem duas potências no Mundo actual.
Uma é a América, que é tirânica e opressiva.
A outra é um guerreiro que ainda não foi acordado do seu sono, e esse guerreiro é o Islão.”
Iman Mouaid Al-Ubaidi, clérigo sunita de Bagdad
“Não se equivoquem: a escolha é entre duas visões do Mundo”
Dominique de Villepin, Ministro dos Negócios Estrangeiros da França
O iman iraquiano, sem defender o Terrorismo explicitamente, usou o mesmo tipo de simbolismo que o presidente americano.
A escolha “connosco ou contra nós” lançada pelo George W foi desmontada e reformulada, colocando-se o Islão como a autoridade moral, e o “mal americano” a substituir o verdadeiro mal: o Terror.
Esta é uma visão do “Choque das Civilizações” que Bush e Al-Ubaidi pelos vistos compartilharam.
A terceira e última citação lembra que nem todos dividem o Mundo com as mesmas linhas dos Estados Unidos e dos Islamitas radicais.
É um facto e ainda bem.
A França condena a visão de um Mundo unipolar, em que Washington age sem restrições, contrapondo um Mundo multipolar, em que o poder americano seria compensado e equilibrado por uma Europa unificada.
Mas debaixo da batuta franco-alemã claro!
Por detrás desta segunda visão está a ideia de que o poder americano, em vez de fortalecer a Europa, põe em risco os seus interesses.
Discordo.
Essa ideia esquece a Normandia, esquece a crise de Berlim, esquece mesmo o recente Kosovo.
A ideia por detrás desta segunda visão do Mundo poderia ser outra, não a que nasce do orgulho ferido francês perante o poder americano (aliás a França faz o mesmo em África, sempre que pode) mas a que nasce do discurso Kantiano “Para a Paz Perpétua” que exclui totalmente qualquer atitude unilateral e acentua o esforço conjunto internacional, substanciado na Organização das Nações Unidas.
Contrariamente à atitude americana, agreste, que descreve a América como Marte e a Europa como Vénus (ideia do “soft power” versus “hard power”), Bush&Companhia fariam melhor se identificassem a atitude europeia com Minerva.
A Europa sofreu em si, nas suas cidades, duas guerras arrasadoras;
A Europa também quis em tempos estabelecer à força o “reino de Deus na Terra”, um Estado político preferencial, como pretendem agora os Teocratas Islâmicos ou os “Democratas Bombardeiros” americanos.
E a Europa sabe como Marte também se exaure.
A Alemanha que o diga…
Em política internacional, não sou pacifista, sou Kantiano.
Etiquetas: kant, paz, politica, terror
Comments:
<< Home
Quem dera, princípios de justiça e valores universais, como "coisa" partilhável e experienciável aqui neste planeta quase redondo...
Fosse Kant mais vivo, nesta bola que pula mas teima em não avançar...
Enviar um comentário
Fosse Kant mais vivo, nesta bola que pula mas teima em não avançar...
<< Home