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La force des choses
11.12.09
 
Nada se salva (neste mundo, lol)
Sob este animador título, Púlido Valente tem o talento de em poucas palavras sintetizar o essencial:
Num país que se habituou à autoridade irremovível de um “chefe”, e que não vive bem com a negociação e o compromisso, a incerteza e as dificuldades de um parlamentarismo de facto, como ele hoje existe, tornam o Presidente, que é o único ponto fixo do sistema, no árbitro das facções. (no Púbicozinho de hoje)

Em 1908, o rei Carlos – note-se que o presidente, em Portugal, é uma forma substituta do rei, o poder moderador – percebeu que o sistema político estava num pântano – significando os partidos – e dissolveu o parlamento, colocando João Franco em ditadura administrativa – uma brincadeira, comparando com as ditaduras seguintes da I República ao Estado Novo. O que o rei queria, aproveitando a normalização orçamental já conseguida, seria promover um novo partido que ganhasse as eleições, marcadas para Abril desse ano, induzindo talvez um novo rotativismo (por exemplo, com Teixeira de Sousa) que normalizasse também a política e o parlamento. Os dos velhos partidos odiaram esta ideia; o destino matou-o. Depois foi o que se viu…
Noutro contexto, julgo ser algo parecido o que hoje querem os que governam. Desejam que o presidente ponha a oposição na ordem – traduzindo, que dissolva – e os da oposição, aspirando ao que quer que seja que lixe o governo, até ao abuso do poder presidencial, que noutras circunstancias achariam intolerável. Creio ser nesse sentido que VPV escreve “faça o que faça, o que fizer é mau para ele e compromete a hipótese de um segundo mandato”.

Volto à minha de sempre, o senhor presidente tem é que estar quieto – honesto e independentemente de projectos de reeleição – os partidos e o governo que aprendam, que se habituem, mesmo que custe, a entenderem-se. E quando pedirem – quando o governo se reconhecer impotente – então que intervenha. Mas atenção! Em primeiro lugar há mais possibilidades antes da dissolução (depois não se queixem), e em segundo lugar, senhores do PS, não é liquido que os cidadãos lhes dêem outra maioria, como aconteceu em tempos com Cavaco. Por mim, que votei socialista pela segunda vez, não voltarei a dar o benefício da dúvida. E sou um português mérdio, mais que mérdio… acreditem.

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