16.8.09
A questão real
A notícia de verão produzida pelo 31 da Armada, ao trocar bandeiras – imagina se a troca tem sido com a bandeira nacional – tem levado a bué discussões de café sobre a bondade dos regimes.
Quanto a mim a discussão é sem sentido…
Desde da “descoberta” de que a soberania está no “povo” que a realeza passou a ser uma questão despicienda. O absolutismo foi para o caraças, substituído com estatal frieza pelos fascismos modernos. E cabe aqui uma lembrança, a da destituição de Mussolini ter sido possível porque um rei o despediu, ao contrário do III Reich Alemão, que à semelhança do Napoleónico, descendia de uma Republica. As voltas que as coisas dão…
Voltando ao rei; quando este Portugal, país esquisito, resolveu despedi-lo – sem perguntar nada ao povo, como diz o do 31 – a teoria republicana pressupunha que a simples mudança de soberano traria automaticamente a felicidade positiva. Trouxe sim, ao que parece, uma turbulenta ditadura de partido único (o do Costa), substituída depois por uma outra, mais estável (a do Oliveira).
Em 1910, tirando a França, origem do “mal”, toda a Europa era monárquica. Foram desventuras como as revoluções e guerras que transformaram esse quadro político naquilo que é hoje: Democracias de parlamento, sejam repúblicas ou as monarquias sobreviventes.
Com a particularidade dos reis actuais serem meras peças do mobiliário histórico, e de algumas das repúblicas (logo desde a primeira da História moderna) terem mimetizado as monarquias com Presidentes, uma espécie de reis electivos.
Por outro lado, o republicanismo não mudou nada à desgraça do povo (nem ao analfabetismo) e no mais provável, não tivesse acontecido o regicídio, seriamos hoje uma monarquia parlamentar, como a Espanha ou os países do norte.
No entanto, Portugal deve ser um dos poucos países onde a Republica convive bem com a Monarquia. Sendo uma Republica, venera um reizinho que lhe corresponde afectuosamente, e volta não volta, pelas razões mais díspares, lembramo-nos nostálgicos de uma bandeira azul e branca. Como se isso não bastasse, arranjámos um cargo público eleito, no qual os protagonistas tendem a adquirir o comportamento de uma majestade reinante. País esquisito...
Ora, como no problema da legitimidade, ter-se rei ou presidente, não põe nem tira grande coisa, uma vez que o poder é eleito, devíamos concluir que ao contrário do que julgavam os jacobinos antigos, o estado actual, radica noutra questão, qual é, a do bom governo. Que pelos vistos não fica garantido pela democracia do voto (agora lembro a Madeira…) precisa de mais qualquer coisa… a questão real, talvez essa seja a de cidadãos honestos, cidadãos de dar para além do receber, cidadãos com princípios, não de purismos, mas de tolerância… mas não sei…
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