17.3.08
A atitude textual
Aplicar literalmente o que se aprende num livro à realidade é arriscar-se à loucura ou à ruína.
(…) No entanto, as pessoas tentaram e continuam a tentar usar os textos desta maneira simplista.
(…) Parece ser uma falha humana comum preferir a autoridade esquemática de um texto ás desorientações de encontros directos com o humano.
(…) Ouve-se muitos viajantes dizer, a respeito de uma experiência num país novo, que não foi o que eles esperavam, querendo significar que não era como um determinado livro disse que seria. E é evidente que muitos escritores de livros de viagens compõem as suas obras de modo a dizerem que um país é assim, ou melhor, que é colorido, caro, interessante, etc. A ideia, em todos os casos, é a de que pessoas, lugares e experiências podem sempre ser descritos por um livro, de tal modo que o livro (ou texto) adquire maior autoridade e uso do que a própria realidade que descreve.
Edward Said, Orientalismo representações ocidentais do Oriente, Cotovia 2004 (p. 108)