Mil egos à solta
Num bom artigo hoje, no Público, José Pacheco Pereira faz uma (mais uma) reflexão crítica sobre Metabloguismo: porquê e o quê escrevemos “on line”?
A blogosfera, apesar de estar em expansão, continua a ser um fenómeno de minorias. Mas consegue dar uma interessante amostra da nossa vida intelectual e cultural - não somos sofisticados em linha, se somos trogloditas cá fora - reflectindo as grandes pulsões da Polis nos nossos dias: a sociedade espectáculo e a demagogia.
Jpp releva a desvalorização da palavra escrita em relação à imagem em movimento, como sendo uma marca do tempo actual, recordando-me as proféticas “Seis propostas para o próximo milénio” de Ítalo Calvino: a leveza, a rapidez, a exactidão (nesta falhamos, muito), a visibilidade, a multiplicidade...
A blogosfera é “uma câmara de ressonância da pobreza da nossa vida cívica”, mas “com a diferença que nos blogues o retrato é mais brutal porque mais arrogante e mais solto”; selvática diria eu... uma visão anti-rousseau.
Por outro lado, os blogues além de reflectirem cultura, também fazem mudar.
Jpp crê identificar uma nova “cultura de blogue”, superficial e feita de pouco mais do que leituras na “net”.
Para ilustrar os efeitos do fenómeno, Jpp socorre-se do velho mas sempre presente Eça: "Juízos ligeiros, vaidade, intolerância – eis três negros pecados sociais que moralmente matam uma sociedade!
Maneira superficial, leviana e atabalhoada de tudo afirmar, de tudo julgar."
Jpp refere razões egoístas com regras de jogo próprias, afirmativas, assentes num envolvimento fortemente narcísico e auto complacente.
De facto sobressaiem elementos desses, no conteúdo e na forma de cada blogue, até nos pormenor, como o de fechar ou abrir da caixa de comentários, por exemplo.
No meu caso reconheço duas forças de atracção como o narcisismo por um lado e a necessidade reconhecimento externo por outro. No entanto, e aqui contesto Jpp, a blogosfera também nos ajuda a construir; ou porque obrigou a uma ética, que por mim tento que seja cristã, paciente, tolerante e não egoísta – evitando escrupulosamentea agressão gratuíta – nisso superando mesmo o meu comportamento na vida real; ou porque obrigou a estudar antes de editar, a cuidar um mínimo do que se escreve, e também nesse sentido ao saber e à disciplina.
A este propósito dizia Calvino sobre a Multiplicidade: (…) quem somos nós, quem é cada um de nós senão uma combinação de experiências, de informações, de leituras, de imaginações? Cada vida é uma enciclopédia, uma biblioteca, um inventário de objectos, um catálogo de estilos, onde tudo pode ser continuamente remexido e reordenado de todas as maneiras possíveis.
Etiquetas: blogs, comunicação, pacheco pereira