A pedra
Tu não receberás sinal nenhum, porque a marca da divindade de quem tu pretendes obter um sinal é o próprio silêncio. As pedras não sabem nem podem saber nada do templo que constituem. Nem o bocado de casca, da árvore que ele constitui na companhia de outros. Nem a árvore ou a moradia, da propriedade que compõem juntamente com outros. Nem tu, de Deus. Seria preciso que o templo aparecesse à pedra ou a árvore à casca, o que não tem sentido, pois a pedra não dispõe de linguagem em que o receber. A linguagem é da escala da árvore.
Vim a descobrir tudo isto depois daquela viagem até junto de Deus. Sempre sozinho, fechado em mim diante de mim. Não tenho esperança alguma de sair, por mim, da minha solidão. A pedra não tem esperança de ser outra coisa que não pedra. Mas ao colaborar congrega-se e torna-se templo.
Saint-Exupéry, in "Cidadela". Presença, 1996
Mas pá, foi por isso que Ele apareceu aqui. Várias vezes.
A mensagem é sempre a mesma, “acredita em Mim e no meu amor”.
Porque “a pedra não dispõe de linguagem em que o receber”.
Porque “a pedra não tem esperança de ser outra coisa que não pedra. Mas ao colaborar congrega-se e torna-se templo”.
Colaborar deveria querer dizer amar.
Etiquetas: exupéry, filosofia, ler, religião