Nunca fui assim
Eu não quero persistir nesta guerra pública e privada comigo e com toda a gente.
Lamento do coração os meus irreflectidos ataques ao amor-próprio dos portugueses, que tinham, e têm, o seu lado bom.
Como lamento as dúvidas que lancei sobre o futuro de Portugal.
Eu também sou humano.
Também aspiro a uma sinecura modesta, que me tire de cuidados.
Porque é que não hei-de ser adido ou comissário?
Por favor, esqueçam o resto.
Os inimigos são a minha essência e o meu abrigo.
São a minha disciplina.
A minha disciplina consiste numa única regra, grossa, básica, salvífica: não ser como eles. Guerra mesmo imaginária é profilática e terapêutica.
Impede a partilha, divide as águas.
Eu não conto com a santidade.
Preciso de quem me comprima e me atemorize.
Aos trinta, aos quarenta, aos cinquenta anos, distraí-me por umas horas ou por uns meses.
E depois? Quando olhei para mim, estava parecido com eles, com os meus queridos inimigos.
Com importância e afabilidade, interesse e respeito.
Com um lugar na vida e a ciência de que há lugares na vida.
Em veloz movimento e absolutamente inerte.
E Deus sabe que eu nunca fui assim.
hum... ok, menos quando fala de carros ;P
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