Do ponto a meio caminho
RalphGibson1961
Sei que a expressão “chegar a um acordo, a um compromisso” tem uma reputação terrível nos circuitos idealistas europeus, especialmente entre gente jovem.
O acordo é concebido como falta de integridade, falta de directriz moral, falta de consistência, falta de honestidade.
O compromisso empesta, comprometer-se a chegar a um acordo é desonesto.
Não no meu vocabulário.
No meu mundo, a expressão “chegar a um acordo, a um compromisso” é sinónimo de vida. E onde há vida há compromissos estabelecidos.
O contrário de comprometer-me a chegar a um acordo não é integridade, o contrário de comprometer-me a chegar a um acordo não é idealismo, o contrário de comprometer-me a chegar a um acordo não é determinação.
O contrário de comprometer-me a chegar a um acordo é fanatismo e morte.
(…)
E quando digo acordo não quero dizer capitulação, não quero dizer dar a outra face ao rival ou a um inimigo (…), quero dizer procurar encontrar-me com o outro em algum ponto a meio do caminho.
E não há acordos felizes: um acordo feliz é uma contradição.
Amos Oz, Contra o fanatismo, Público-ASA 2007
Realmente é muito difícil largar a própria visão/razão e deixar que surja uma nova no tal "ponto a meio do caminho".
"E não há acordos felizes: um acordo feliz é uma contradição."
Talvez feliz não seja o acordo mas o que resulta daí. Talvez a felicidade venha depois...
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