13.6.07
O triunfo do ódio
Há quase uma semana que as agressões individuais, raptos e execuções, se multiplicavam. Nesta terça feira, a agressão generalizou-se, com ataques organizados a unidades militares e instalações públicas.
O novo governo de “unidade” que o presidente Abbas conseguira formar como alternativa às eleições antecipadas, está à beira do colapso, já ninguém o ouve. E Abbas está a ser pressionado para romper e convocar mesmo eleições.
O Hamas opõe-se radicalmente, acusando a Fatah de pretender emendar o resultado de 2006, em conluio com Israel e os Estados Unidos; “eles não são palestinos” dizem os militantes islâmicos.
A Fatah devolve, acusando de ser o Hamas quem pretende um golpe armado contra a Autoridade Palestina.
O mediador egípcio, tenente-coronel Burhan Hamad, diz que ninguém possui armamento para conseguir uma vitória decisiva; e diz também “Temos de os fazer envergonharem-se de si próprios. Mataram toda a esperança. Mataram o futuro.”
As forças da Fatah têm-se limitado à defesa, excepção feita para para a tomada de controlo da TV Al Aksa, em Ramallah na margem ocidental (onde dominam).
Mas se Abbas romper a coligação governamental, e der ordem de ataque às suas forças, significará que o ultimo limite foi ultrapassado.
Teremos o triunfo dos argumentos de ódio e a guerra entre irmãos, com culpas para o Hamas na sua recusa de reconhecer o “outro”, preferindo o “martírio” da Palestina, em detrimento da Paz (para o que teriam o apoio quase incondicional da União Europeia), e preferindo ser instrumento de “partidos de Deus” estrangeiros; com culpas para uma Fatah corrupta e dependente, que se entrega nas mãos dos USA por interesses próprios, inconfessáveis; com culpas para Israel, que fez tudo para que o caldo da miséria e ódio fervesse em lume brando na frigideira murada de Gaza; mas o destino é irónico, e talvez Israel venha a lamentar mais amargamente ainda a sementeira de ódios e fanatismos, veremos… porque o destino das populações da Palestina, judeus ou árabes está indissoluvelmente ligado, e o futuro de uns é o futuro de outros.
Há palavras de guerra e há palavras de paz. Há mal e há bem.
No preâmbulo da constituição da UNESCO podemos ler uma ideia antiga, muito kantiana “uma vez que as guerras começam no espírito dos homens, é no espírito dos homens que as defesas da paz têm que ser construídas”.
Querer a Paz implica assumir uma cultura que queira mesmo a Paz, é uma questão mental, decidir se querermos viver… ou continuar a política “por outros meios”, isto é, a morte.