23.6.07
Da Geopolítica
O novo recorte geopolítico mundial decorre dos efeitos provocados por dois acontecimentos “detonadores” – o final da Guerra Fria e o onze de Setembro – e por um outro “revelador” – a crise iraquiana, num contexto fortemente marcado pela emergência das ameaças assimétricas e pela tentativa de se estabelecerem novas estratégias para lhes fazer face.
Os “detonadores” produziram profundas mutações no sistema internacional e conduziram a alterações substanciais na estrutura de poder mundial, na medida em que ambos foram aproveitados pelos Estados Unidos como oportunidades para expandirem o seu alcance estratégico.
Porém, se as relações da super potencia com a Rússia e com a China melhoraram de forma significativa na sequencia da tragédia dos atentados de onze de Setembro e da “guerra contra o terror”, nas relações transatlânticas regista-se um movimento inverso, em virtude do agravamento das divergências sobre as estratégias adequadas para enfrentar as novas ameaças.
A crise em torno da intervenção militar no Iraque foi, sobretudo, um “revelador” dessas desavenças entre americanos e europeus.
A nova ordem internacional é actualmente caracterizada por um modelo híbrido, complexo e original na estrutura de poder mundial que podemos designar por uni-multipolar, e pela coexistência de dois vastos movimentos geopolíticos e geostratégicos: por um lado, a guerra mundial “contra o terror” e, por outro, o jogo de “contenções mútuas e múltiplas” entre a pressão hegemónica dos EUA e os que se batem (EU, Rússia e China) no sentido de conter ou mesmo contrariar essa hegemonia.
(Luís L. Tomé, Novo recorte geopolítico mundial, UAL 2004, texto da contracapa deste excelente livro)