31.12.06
Cavaco segundo VPV
RTP
O inebriante Vasco Polido Valente volta à carga neste sábado (Público 30 XII 06) com o famigerado Dr. Cavaco.
Escreve assim:
“Durante a campanha eleitoral o Dr. Cavaco insistiu muito na cooperação estratégica com o governo. (…)
Em 2006, não se pode dizer que falhou por completo, mas ficou longe do que se esperava dela: o milagre do cavaquismo não se repetiu. (…) … A cooperação estratégica é hoje pura dependência.
O fracasso de um acabou por se tornar necessariamente o fracasso do outro. (…)
Ninguém compreenderá que ele tenha sustentado e reforçado a autoridade de Sócrates para deixar o país como o encontrou, empobrecido e torto, na famosa cauda da Europa. (…)
O presidente e o primeiro-ministro ganham ou caem juntos.”
Este marranço anti-cavacal vem já da campanha presidencial, onde VPV elegeu Soares, zurziu Cavaco e ignorou Alegre.
Defendia a tese de que as promessas de Cavaco (um novo milagre do cavaquismo), sendo impossíveis de cumprir, ser-lhe-ão cobradas mais tarde, quando o país se aperceber que continua na merdaleja.
Não lhe ocorreu (como diz) que será o primeiro-ministro, não o presidente, quem será responsabilizado – por ser ele o eleito para governar – independentemente de quaisquer promessas feitas por Cavaco em campanha; a memória é curta e a função presidencial é de árbitro, não de executivo.
Não lhe ocorre agora também, que é Sócrates quem se está a tornar dependente do presidente, por aceitar (elogiando) propostas e interferências sub-reptícias em domínios exclusivos do executivo, que hoje vão no sentido do reforço (estratégia do momento) mas amanhã, com a legitimidade aberta pelos precedentes, até podem facilitar ao presidente o tirar do tapete: ajudou até onde podia... (parecido com a cena de Sampaio, quando confirmou Santana Lopes, para mais tarde, mais legitimamente o dispensar).
E aí, as responsabilidades pelo estado das coisas, nunca serão do presidente, mas do governo; Aí a responsabilidade do presidente, perante os portugueses, será a de retirar Sócrates da equação.
A ninguém (excepto ao VPV) interessará que Cavaco tenha ou não sustentado Sócrates; o presidente e o primeiro-ministro não ganham nem caem juntos. Quando surgir (se surgir) a Sócrates o momento da desgraça, os portugueses voltar-se-ão para o presidente, com a mesma carência sebastianista com que se viraram antes para Sócrates.
Já na derrota do Dr. Soares, o Dr. Polido Valente devia ter percebido que os portugueses, na sua “atávica miséria” (como diz), não se regem pelos seus iluminados critérios.
O que vejo de perigoso em Cavaco, é que sendo um político competente, hábil e ambicioso (ai não, não é…), aproveitará a primeira oportunidade que julgue de uma fraqueza irreversível da maioria, para levar a eleições, e ao poder um PSD então mais cavaquista; influenciando mais directamente, o homem do leme (no seu íntimo e no de muitos, a sua própria vocação).
É por ver diferente o papel da presidencia, que apreciei a imparcialidade relativa de Jorge Sampaio, e preferia muito a imparcialidade que Manuel Alegre garantia.
Se eu tiver razão (oxalá me engane) mais tarde ou mais cedo, teremos Cavaco;
Se o insigne "opinion maker" tiver razão vão os dois ao ar, qual o problema?