8.10.06
Noite de Luz
Vocês, os filósofos, colocam questões sem resposta, que assim devem permanecer para que mereçam o nome de filosóficas.
Uma questão equacionada só pode ser, segundo vocês, uma questão técnica. Era técnica. Foi tomada como sendo filosófica.
Desviam então a vossa atenção para uma outra, que aparenta ser impossível de resolver e que deve resistir a toda e qualquer conquista do entendimento.
Ou então, o que acaba por ser o mesmo, declaram que o facto de a primeira questão ter sido resolvida se deve à mesma ter sido mal colocada.
E atribuem a vocês mesmos o privilégio de a manter irresolúvel, ou seja, bem colocada, a questão que a técnica, ao acreditar tê-la solucionado, mais não fez que a maltratar.
Uma solução tem para vocês o valor de uma ilusão, é uma verdadeira falta para com a integridade devida ao Ser, e por aí fora...
Vida longa á vossa paciência. Poderão sempre resistir à custa dessa incredulidade. Não se espantem no entanto se por causa desta irresolução, o leitor caia no aborrecimento.
Mas não é essa a questão. Na espera, envelhece o Sol.
Explodirá dentro de 4,5 mil milhões de anos. Já ultrapassou um pouco a metade da sua vida. É como um homem de quarenta e poucos anos dotado de uma esperança de vida de oitenta.
Com o seu fim, terminarão igualmente as vossas questões irresolúveis.
Talvez se mantenham, impecavelmente bem colocadas, mas não haverá mais onde as colocar, nem lugar para existirem.(…)
Após a morte do Sol, não haverá pensamento para reconhecer que era da morte que se tratava. Diante dela tudo parece fútil. Guerras, conflitos, tensões políticas, movimentos de opinião, debates filosóficos, até paixões, tudo está desde logo morto se essa reserva de infinito da qual retiram actualmente a energia para diferenciar as respostas se, em suma, o pensamento como busca deve afinal morrer com o Sol.
Jean François Lyotard, O Inumano- considerações sobre o tempo, Ed. Estampa 1990, pág. 17
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Nesse sentido há uma coisa que desde já perde a sua futilidade: As viagens espaciais.Talvez possam permitir ao tal pensamento sobreviver, ao pé de uma outra estrela.
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