22.10.06
Antonieta
Bonito, o ritmo é interessante, a música exalta por vezes, as imagens tornam-se muito belas, aliás… Versailles encanta.
Mas subscrevo Polido Valente (Público de sábado, que me levou a ir ver) que quando não é boçalmente “moderno”, impressiona pelo saber; Antonieta não foi uma ingénua doçe e os casamentos políticos da época nada tinham a ver com aspirações românticas.
Penso até que a razão das recentes raivas francesas em relação à Sofia Copolla se situam por aí, que não era Luís o frigido, mas mais a Maria.
Polido Valente vê também na dama algum pré-modernismo em aspectos como o romântico culto do “eu”, a rejeição da etiqueta da corte e a majestade descendo à “humanidade vulgar”.
Mas julgo que a corte francesa do século XVIII nada tinha a ver com modernidade, seria mesmo a sua antítese.
Porque há diferenças essenciais entre o século XVIII e o outro (XIX) que se anunciou na Grand Cour de Versailles, aquela tremenda noite de 5 de Outubro de 1789.
Há uma diferença de essência… entre a estratificação social do século XVIII, sagrada e imutável, com a nobreza aristocrática da corte, formal mas seduzida pelas ocas aparências, ... e a burguesia esfaimada, ambiciosa, que rudemente fez irromper o igualitarismo e a contingência, anunciando o século XIX; curiosamente nessa noite a maioria eram mulheres.
Essa história não passa no filme, o que passa são belas imagens e sons, uma espécie de video clip gigante sem grande contexto, tudo num ar do nosso tempo (para citar de novo o VPV) que por acaso é de tão de ocas aparências como as da “gentil” gente de Versailles.
Subscrevo o Ricardo, é ligeiro, vazio… também não me toca.