25.9.06
Da competência de expressão
CourrierInternational
O Vaticano disse nesta sexta-feira (22) que o Papa vai se reunir com embaixadores muçulmanos no Vaticano e líderes islâmicos italianos na segunda-feira (25) para tentar acalmar os ânimos.
São os comportamentos e discursos dos actores públicos ocidentais, depois de potenciados pela comunicação social, que servem de lenha para os incêndios islâmicos;
Mas são só a lenha, porque o braço que selecciona a frase e depois lança na fogueira é sempre islâmico.
No último sábado (Público 23/IX/06) o historiador Rui Tavares denigre com entusiasmo um lenhador eventual (Ratzinger), mas nem uma palavra de critica às mãos que lançam a lenha na fogueira (o clero islâmico).
Demarcando-se bem do representante de Cristo na Terra, mesmo depois de ter traduzido o discurso do Papa; mesmo depois de reconhecer que “Ratzinger tem mais problemas com os ocidentais modernos do que com os muçulmanos”; mesmo depois de perceber que aquilo que o texto defendia era a aliança entre a razão e a fé (um outro “paleólogo”, de nome Henri Bergson, chamou-lhe intuição) contra a razão pura e a fé fanática; mesmo depois disto, o historiador resume-se a atacar o toro de lenha, e esquece os braços que o lançam na fogueira, como o do “Mufti” turco, por exemplo.
Porque, explica o historiador, “a questão não é tanto a de saber se eles (políticos e religiosos) têm direito à liberdade de expressão (a resposta é sim) mas muito mais a de saber se estão a fazer bem o seu trabalho. E aí a resposta é não, como o próprio Vaticano implicitamente admitiu nos seus pedidos de desculpas”.
Ou seja, se o Bento se espalha, mesmo que mal entendido, tem que pedir desculpa ao Islão, e mesmo assim o historiador, despede-o por incompetência e má fé… mas nem uma palavrinha aos grandes aiatolas incendiários, Fadlallah do Libano, Khatami do Irão, Al-Qaradawi ou Madhi Akef do Egipto, só para dar alguns.
Aí já não interessa, trata-se de “outros”… e o problema de Rui Tavares é aqui, com a “verdade velha” do Ratzinger.
Não interessa que, a partir de agora, qualquer discurso público de qualquer ocidental relevante, terá que ser medido de tal forma que, qualquer frase retirada do texto seja completamente insípida, incolor, inodora, e inócua relativamente à Montanha.
Mesmo que se destine a afirmar o contrário quando reinserida no texto.
Porque a Montanha é muito alta e está acima da mera racionalidade.
A Montanha é intocável.
Não será essa história relevante para o historiador?