19.7.06
Obcecado com o barulho das bombas
Por fim desembarcaram.
Abriram uma rua nos cadáveres…
Ao fim da praça, pararam a olhar a frontaria da Basílica, num gratuito de patine amorenada, com estátuas de navegadores e de guerreiros, à sombra dos baldaquinos arrendados…
As mãos do Sol estavam a consolá-la.
...
Mas de repente, os vitrais das torres, da rosácea, pareceram beber Sol com mais sede;
As ogivas, mais do que nunca eram, eram mãos postas;
E os coruchéus, as agulhas implorantes, distenderam-se mais de aspiração como as almas dos místicos na morte: a Basílica toda, num fragor, de mudando o azul em poeira e fumo, fez dos conquistadores lama sangrenta sob o Pantheon da raça aniquilado.
…
Os que desembarcavam nesse instante, fugiram para bordo, alucinados, com terror desta terra de loucura, em que a vertigem de um povo desgraçado contagiara as pedras, insurgindo-as…
Na capital, agora os mortos reinam.
Há cadáveres, escombros… e vitória!
António Patrício in “O Fim” – Lello e Irmão 1909