Alteridade e Conflito (ainda por causa das bombas :)
Nós não é o plural de Eu, afirma Emmanuel Lévinas, evidenciando com isso que, a presença do Outro, metaforizada na noção de rosto, se dá exactamente pela sua diferença em relação ao Eu. O Outro é, então, presença de alteridade: diferença, estranheza, novidade, contrariedade, infinitude, ignorância.
Para Lévinas, conceptualizar, nomear o Outro – uma das formas de dominá-lo – é violência e negação, um dos modos de matar a alteridade: o conceito é um gesto inútil de redução do Outro, ao que ele não é de facto (fim ou utensílio); inutilidade que se revela no facto de que, por insistir em não ser a redução que lhe é suposta, o Outro sempre tenderá a surpreender, a mostrar o seu rosto próprio, diante do Eu, para seu espanto e seu estranheza.
Isso, para Lévinas, faz parte da própria condição humana: o humano não se dá aos processos de dominação, donde se conclui que apenas exterminando-o será possível dominar inteiramente o Outro, mas nesse acto extremo, o Outro torna-se inteiramente perdido, exaurindo-se também toda e qualquer possibilidade de eficácia dominadora...
Luiz Signates, S. Paulo 2000