16.12.05
Das Torres do Saber
Odette Drapeau, artiste du livre
Vocês, os filósofos, colocam questões sem resposta, que assim devem permanecer para que mereçam o nome de filosóficas.
Uma questão equacionada só pode ser, segundo vocês, uma questão técnica.
Era técnica.
Foi tomada como filosófica.
Desviam então a vossa atenção para uma outra que aparenta ser impossível de resolver e que deve resistir a toda e qualquer conquista do entendimento.
Ou então, o que acaba por ser o mesmo, declaram que o facto de a primeira questão ter sido resolvida se deve à mesma ter sido mal colocada.
E atribuem a vocês mesmos o privilégio de a manter irresolúvel, ou seja bem colocada, a questão que a técnica, ao acreditar tê-la solucionado, mais não fez que a maltratar.
Uma solução tem para vocês o valor de uma ilusão, é uma verdadeira falta para com a integridade devida ao ser, e por aí fora.
Vida longa à vossa paciência.
Poderão sempre resistir à custa desta incredulidade.
Não se espantem no entanto se por causa desta irresolução, o leitor caia no aborrecimento.
(Jean François Lyotard, no Graduiertenkolleg da Universidade de Siegen (Alemanha), Novembro 1986)
Post Scriptum:
Quero sublinhar, que nem tudo o que aqui edito, corresponde ao meu pensar, bem pelo contrário.
O que faço, é passear pelo pensamento e factura dos outros (gigantes ou pigmeus), editando aquilo que me interessa, mas sem ter em conta o meu acordo ou desacordo.
Aliás sou mais de perguntas e de dúvidas, do que de problemas resolvidos.
A minha posição em relação a quase tudo é ambígua, porque pura e simplesmente,... não sei.
E esta crítica com humor, que trancrevi de Lyotard, assenta-me.
Talvez não até ao pescoço, mas enfio parte da carapuça.
Sou mais de perguntas e dúvidas...
Mas encontro-me nesta reflexão de Lyotard (ele próprio, um filósofo da pós-modernidade) e julgo que este “cepticismo intelectual” criticado, se aplica noutras “especialidades” (nos dois sentidos, para o crítico e para o criticado), desde os campos da religião até aos campos da política.
Sou mais de perguntas.
Vou percorrendo o caminho, embuído num pessimismo algo fadista, mas com recorrentes afloramentos dum optimismo estranho e seguro, que me está latente.
Acho que ascensão ao Céu não exclui ninguém, como informou em tempo um jovem carpinteiro palestiniano.
Só a cada um de nós, mónadas cósmicas, cabe escolher.