16.11.05
A Poluição
Zirmastill
Às vezes parece-me que uma epidemia pestífera atingiu a humanidade na faculdade que mais a caracteriza, ou seja no uso da palavra, uma peste da linguagem que se manifesta como perda de força cognitiva e de imediatismo, como um automatismo com tendência para nivelar a expressão nas fórmulas mais genéricas, anónimas e abstractas, para diluir os significados, para embotar os pontos expressivos, para apagar toda a centelha que crepite do encontro das palavras com novas circunstâncias.
E acrescentarei que não é só a linguagem que me parece atingida por esta peste.
Também as imagens, por exemplo.
Vivemos debaixo de uma chuva ininterrupta de imagens; os mais poderosos media não fazem senão transformar o mundo em imagens e multiplicá-lo através de uma fantasmagoria de jogos de espelhos: imagens que em grande parte estão privadas da necessidade interna que deveria caracterizar toda a imagem, como forma e como significado, como forças de se impor à atenção, como riqueza de significados possíveis.
Grande parte desta nuvem de imagens dissolve-se imediatamente, tal como os sonhos que não deixam marcas na memória; mas não se dissolve uma sensação de estranheza e mal estar.
Italo Calvino, Lezioni Americane – Sei proposte per il prossimo milennio
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A arte é imagem. Não nos livramos disto... a fronteira entre o que é bom e o que é mau não é clara...
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