19.11.05
Da novíssima revolta 2
spikyjumper
É levantar tarde e não ter programa para o dia – nem escola, nem emprego.
É descer até à entrada do prédio, encontrar os amigos e não ter nada que fazer.
Andam por ali até tarde, chateiam-se e chateiam as pessoas do bairro, que já não podem com eles.
Às vezes vão até ao centro comercial mais próximo.
E quando vão, vão em grupo porque não sabem fazer nada sozinhos.
Mas chegam como selvagens porque não têm os códigos da vida em sociedade.
Os pais vêm de culturas diferentes e não há miscigenação nestes bairros, onde toda a gente é pobre e sofre.
Na escola e no trabalho também se aprendem esses códigos, mas eles estão fora do sistema.
Acabam por cair na tentação dos pequenos tráficos para terem algum dinheiro e entram assim numa engrenagem.
O mais curioso é que essas crianças – salvo nos casos mais difíceis – são respeitadoras e obedientes em casa.
São miúdos que aprenderam a gerir a sua esquizofrenia social.
Em casa há regras, respeito e educação.
Na rua – e até na escola, para o punhado que ainda lá vai – são outras pessoas.
Adil Jazouly (sociólogo), Público 12 Novembro 2005