28.10.05
O ódio de si próprio
O ponto de partida do ódio a nós próprios é a mentira fundamental, que oculta a parte que tomámos no acto da nossa própria sujeição.
Se uma pessoa renegou o seu Eu, porque ele teria posto em perigo o seu poder, sentimentos vingativos começam a reger a vida.
Insiste-se em ser-se amado por causar sofrimento aos outros, comportamento que, não raras vezes, até se faz passar por caridade.
Antigamente, não tinhamos de amar os nossos pais por nos infligirem dores, pois só era para nosso bem?
Em nome de semelhante "amor" e "carinho" paterno, estabelece-se o poder sobre os outros.
O Nazismo ilustra com uma nitidez pouco vulgar, os processos que ocorrem em qualquer sítio onde as pessoas são separadas do seu interior.
Com o fim do III Reich, os seus pressupostos não foram abolidos.
Em vez da substancia humana, continua a cultivar-se a apresentação exterior; a adaptabilidade, e não a independencia interior, é remunerada.
Cada vez mais frequentemente, o terror oculta-se por detrás de caras sorridentes e daí parte com a amabilidade de um comportamento aparentemente respeitador.
Por isso, tornou-se mais difícil identificar a verdadeira doença da nossa época.
(Arno Gruen, "A loucura da normalidade" 1995)