23.9.05
Uma maneira simples
Jenkins, o cão, parou no cimo da colina e sentiu o primeiro vento universal percorrer a terra.
Lá em baixo a encosta que descia até ao rio, vestia-se com o negro e o cinzento das árvores despidas de folhas.
A Nordeste erguia-se a forma sombria, o antro de maldade a que chamavam o “Edifício”. Uma construção que crescia sem parar, tecida no cérebro das formigas, construída com um objectivo, uma finalidade que só as formigas podiam revelar.
Mas havia uma maneira de lidar com as formigas.
A maneira humana.
A maneira que John Webster, o humano, lhe ensinara depois de dez mil anos de sono.
Uma maneira simples e radical, uma maneira brutal mas eficaz.
Pegava-se num bocado de xarope muito doce, para atrair as formigas, e juntava-se-lhe uma boa dose de veneno – um veneno lento, para não actuar com muita rapidez.
Uma maneira simples.
Com a diferença de que era preciso saber química, e os cães não sabiam química.
Com a diferença de que era preciso matar, e já não se matava ninguém.
Nem as pulgas, e os cães estavam empestados de pulgas.
Nem as formigas… e as formigas ameaçavam expulsar os cães do mundo a que chamavam Terra Natal.
Há pouco mais ou menos cinco mil anos que não havia mortes provocadas.
A ideia de matar tinha desaparecido do pensamento de todos os seres.
“E é melhor assim”, murmurou Jenkins. “É melhor perder-se um mundo a ter que voltar a matar.”
Voltou-se vagarosamente e desceu a colina.
“Homer ficará desapontado”, disse de si para si.
“Terrivelmente desapontado quando descobrir que os Websters não conhecem nenhum meio para fazer parar as formigas…”
Clifford D. Simak, City, Gnome, 1952